quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A misteriosa rendibilidade da “Pedreira” e do “Olival”

Num tão folclórico quanto dispendioso e depauperante eleitoralismo, construíram-se para o Euro 2004 estádios municipais quase em cada esquina que prometesse votos, aos políticos e aos donos do futebol.
Ninguém se preocupou, então, com a “insignificância” que consistia na sua rendibilidade futura capaz de suportar os custos de manutenção e amortizar os relativos à sua construção. E não se refere apenas a vertente económica mas em grande medida a sua utilização na formação educacional desportiva da juventude portuguesa.

Neste cenário em que, quer poder central, quer poder autárquico se demitem da formação desportiva da sua juventude, não é, pois, com surpresa, que de há uns tempos para cá se tenham multiplicado as notícias sobre um imenso rol de dores de cabeça dos responsáveis autárquicos que têm os seus elefantes brancos às moscas como, de resto, era bastante previsível.
Temos assistido a poderes autárquicos que já colocam em equação a hipótese de implodir os seus estádios. Outros, com a mudança de cores políticas na respectiva autarquia, vão dizendo que só assumiram o encargo da construção ou remodelação para honrar compromissos anteriormente assumidos e que mais custosos seriam se fossem rasgados.
O rol das notícias referencia os estádios de Aveiro, Coimbra, Leiria e Algarve.

No meio deste vendaval de lágrimas existem dois poderes autárquicos completamente indiferentes quantos aos custos das suas generosas dádivas, quiçá mesmo satisfeitos e de sorriso aberto.
São eles o de Braga e o de Vila Nova de Gaia.

Curiosamente mas sem qualquer espanto, a autarquia de Braga continua satisfeita da vida, muda e queda sobre o famoso estádio da “pedreira”, assim apodado pelo seu desconforto ventoso, para além de muitos dos espectadores nas bancadas necessitarem de binóculos para conseguirem assistir, em pormenor e com a comodidade que os seus olhos reclamam, aos espectáculos desportivos que se desenrolam lá nas profundezas. Acresce que aqueles que sofrem de vertigens ou têm a fobia das alturas fogem dele a sete pés.

O facto de a “pedreira” ter custado praticamente - se não mais - o dobro de qualquer um dos outros estádios individualmente considerados, conquanto não tenha capacidade para mais público do que estes, não preocupa os respectivos autarcas, até porque não são eles os mais sacrificados mas sim os seus paroquianos que têm de suportar resignadamente as despesas da mania das grandezas e as ofertas magnânimas de compadrio de quem é, por lei, seu mero representante e para a oferenda das quais não foi tido nem achado.
Constatadamente, sobre os horrendos custos de conservação e os não menos descomunais custos de amortização – não esquecendo o tremendo serviço da dívida em especial quando os juros do capital investido estiveram e voltarem a estar nos máximos – nem uma linha ou queixume dos responsáveis. A “res publica” só é acarinhada em promessa de eleições. Depois, arrota o “zé povinho”.

Os poderes autárquicos não bracarenses queixam-se amargamente da baixeza das rendas que os clubes que desses estádios usufruem pagam mensalmente, rendas tão minguadas relativamente aos aludidos custos que, se pretendem elevá-las um pouco mais, logo são confrontados com as ameaças de abandono por parte dessas instituições clubísticas inquilinas.

Quanto à “pedreira”, um silêncio sepulcral na comunicação social. No seio do povo, o povo que é o verdadeiramente pagante, vai surgindo um ruído surdo, que ele é confrontado todos os meses com as taxas dos impostos municipais sempre no máximo, com os preços da água e as taxas de esgotos e outros serviços municipais a baterem no tecto do permitido por lei.
Mas da Câmara Municipal e respectivos autarcas nem um queixume, apesar de ninguém acreditar que o Sporting Clube de Braga possa pagar e pague renda compensadora de tão altos custos.

Há uma possível explicação para o facto. O Presidente da Câmara Municipal é um “ponta de lança” no futebol desde que Pinto da Costa instituiu o sistema futeboleiro português. Com Valentim Loureiro, juiz Mortágua e tantos outros, fazia parte da comandita que governava os meandros do futebol português, com a suprema bênção dos poderes políticos subservientes às suas tácticas eleitoralistas.
Ora, todos sabemos que fazer parte do sistema futeboleiro comandado pelo “papa” condenado e com subserviência aos ditames deste, era estar “abençoado” não apenas por ele mas por toda a corja política e justiceira deste país.

Está aí a milagrosa rendibilidade da “pedreira”. Quem vier a seguir, que o actual presidente tem de, por lei, deixar o poleiro que ocupa desde o 25 de Abril – caso que parece único – vai pôr as mãos à cabeça e, se não tiver as mesmas cores partidárias, vai pôr também a boca no trombone.
No entanto, quem vai pagando é o povo e, como não podia deixar de ser, o Povo Benfiquista em maioria.
É a Nação benfiquista a subsidiar mais uma vez, como nós todos já bem sabemos, a parasitagem e corrupção futeboleira nacional.


No mesmo nível, aparece-nos o “Olival”.
Se quiseram usufruir de Centros de Estágio, Benfica e Sporting tiveram de os construir e agora têm de os conservar e pagar.
O FC Porto usufrui de um Centro de Estágio conseguido através dos dinheiros públicos, pagando uma renda pela sua utilização que é uma miséria. Já foi dito que esta renda miserável mal chega para pagar a décima parte só dos custos de manutenção.

Todavia, os poderes autárquicos parecem estar todos felizes da vida e nada de choradeiras. Mais, segundo já foi noticiado em alguma comunicação social, a Câmara Municipal de Gaia prepara-se para, encapotadamente, o doar ao seu inquilino. De resto, escreveu-se nessa comunicação social que quem administra o complexo arrendado não é o senhorio mas o inquilino, tendo este direito a dois administradores numa “testa de ferro” a que deram o nome de fundação, enquanto aquele senhorio se contenta com um administrador somente. Seria um fenómeno a nível mundial, se não estivéssemos em Portugal e mais propriamente no reino futebolístico condenado por corrupção desportiva na forma tentada.
Esta, suponhamos, fundação – que as boas, não as más, línguas dizem ser a cobertura para a concretização da doação – até tem a sua sede na Torre das Antas.

Os poderes autárquicos de Gaia não soltam um gemido. Os verdadeiros donos do empreendimento, os munícipes – e também aqueles que viram terrenos seus expropriados por tuta e meia e “utilidade pública” a favor de um privado mero clube de bairro, ainda por cima condenado por tentativa de corrupção desportiva – esses pagam os favores dos seus representantes, ao que se sabe até agora, sem queixumes também.
No meio deles, mais uma grande parte de Benfiquistas a pagar para o reino do futebol corrupto.

Não pense o caro Benfiquista que estas excepções são mesmo excepções. Elas são a concretização normal de manobras obscuras à custa do erário público e que favorecem estes dois clubes – algumas ainda em investigação fiscal e judicial, mas que o Povo, com a sua experiência bem vivida e a sua natural sabedoria, não acredita que daí resulte qualquer desfecho punitivo para os responsáveis – cometidas pelos poderes cinzentos deste futebol nacional, em simbiose perfeita com os poderes políticos e partidários.
Os benfiquistas são os subsidiadores maioritários e compulsivos por imposição, restando-lhes neste entrementes pagar, refilar e denunciar … para ouvidos moucos.
Mas que acreditem que “água mole em pedra dura” … e nunca abandonem o combate pela verdade e pela justiça, na denúncia constante destes atropelos. Para isso, há que se manterem unidos em torno do seu Glorioso Benfica, premiando os poderes que o merecerem e rejeitando aqueles que são os principais pontas de lança do reino futebolístico corrupto que se perpetua através de tais esteios.
Benfiquistas, não se esqueçam de que constituímos o maior partido político português.

5 comentários:

  1. Pois é meu caro Gil, é para isto quer vai servindo o dinheiro dos contribuintes, num jogo sujo, de há muitos anos e que ninguém parece querer saber, entre o poder local e algumas instâncias do nosso futebol.
    Viva o tráfico de influências.

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  2. E se o S.L.B. concorresse ás legislativas?

    Seria uma forma de acabar com a corrupção.
    Afinal parece que as refinarias estão no norte.

    Caro Gil Vicente se possivel gostaria de poder contacta-lo por e-mai
    raulcorreia.1964@hotmail.com

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  3. Na MOUCHE caro GIL, muito bem esmiuçado estes roubos dos pobres Municipes, po quem os havia de defender.

    Tanto a Camara de Braga como a de Vila Nova de Gaia, dem ter casas e edificios degradados nos seus Concelhos, mas, macomunados que estão com a pior escumalha do futebol, preferem armarem-se em messenas, com o dinheiro dos outrs.

    Esse MONTE DE ESTERCO de Braga, pertence ao nucleo duro da Máfia do futebol cá do burgo.
    ehehehehe, é cá cada AUTO, ó GIL????

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  4. Meu caro Gil Vicente,

    Não sei porquê mas não consigo desde ontem postar comentários, quer no meu, quer no seu e noutros blogs.
    Daí o meu silêncio.
    Está muito mais activo nestes últimos tempos! Como sempre deliciando-nos com excelentes posts. É caso para estranhar mesmo o silêncio das autarquias desses complexos desportivos.
    Abraço.

    Manuel

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  5. Caro Gil

    Confesso que não percebo muito dessas negociatas nem me aventuro a enveredar por considerações sobre tais factos, mas basta-me ler os seus escritos para ficar muito melhor informado e esclarecido.

    Grande abraço

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